E. E. E. F. COSTA E SILVA
CURSO PROINFO
A LEITURA DE TEXTOS LITERÁRIOS EM MEIO AO “BOMBARDEIO” DAS
MÍDIAS TECNOLÓGICAS
ENEIDA BEPPLER RAMBO
SÃO LUIZ GONZAGA
2012
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................3
2. DESENVOLVIMENTO.............................................................................4
3. A LEITURA DE TEXTOS LITERÁRIOS EM MEIO
AO “BOMBARDEIO” DAS MÍDIAS TECNOLÓGICAS...................................................................................5
4. CONCLUSÃO......................................................................................................8
5. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS..................................................................11
INTRODUÇÃO
Uma das maiores necessidades do ser
humano é dar sentido a si mesmo. Partindo desse pressuposto temos no livro, um
constate veículo de comunicação, ligação e socialização entre as pessoas. O
livro tem o poder de servir como uma ponte até a linguagem, local onde o ser
humano se reconhece como humano, e através dela pode se comunicar com os seus
semelhantes e trocar experiências
Os educadores e suas práticas pedagógicas
sentem-se desafiados constantemente na árdua tarefa de formação do leitor. Em
meio a uma competição desleal, no intuito de atrair o interesse e a conquistar
a simpatia das crianças e dos adolescentes, têm na era da tecnologia vários
obstáculos primordiais. O livro, por sua vez, cada vez mais, tem sido
abandonado, só sendo lido por imposição de algum ousado e enérgico professor,
ou dos pais que tenham vivido experiências positivas de leitura no decorrer de
sua trajetória educacional.
O processo de leitura não é dos mais
simples e fácil de empreender, a leitura não se reduz à mera decodificação de
sinais, à simples transcrição da linguagem oral. Muito mais complexa, trata-se
de um processo de inserir-se ao texto, num ato que transpõe os limites técnicos
e mensuráveis, ao encontro de um sonho que todas as escolas idealizam alcançar,
a formação de leitores críticos, para os quais a leitura está sob o olhar da
descoberta de sentido. Fazer brotar em cada leitor esta consciência significa
viabilizar a participação democrática em uma sociedade cada vez mais exigente
de capacitação.
O leitor não pode ser considerado um
receptor passivo de um texto, mas sim como o que produz o sentido, que interage
com o texto, individual e socialmente, relacionando texto e contexto. Ler supõe
enfrentar o desafio de interrelacionar os diversos conhecimentos construídos no
nosso dia a dia. Eis aí o grande desafio: imergir na leitura, aprofundar-se em
suas linhas, entrelinhas e extra linhas, escavar seus significados, diferente de
ser mero espectador ou decodificador de símbolos.
Pretendemos tratar neste trabalho das
formas de participação dos educando no
processo de formação de leitores criativos, auto-confiantes, seguros,
competentes e sobretudo adequados ao contexto social no qual estão inseridos.
Conforme Antonio Cândido, em seu texto A
literatura e a formação do homem, a maior função do texto literário é a
humanizadora, que realça os trações e as emoções do homem. Finalmente é
fundamental ainda tratar-se de estímulos, pois o aluno deve a todo momento ser
instigado a sentir a ânsia de buscar frequentemente a leitura. O leitor em
formação precisa surgir de uma atitude consciente sua ou estimulada pelo
educador, no sentido de enfrentar o desafio que o texto oferece como nova
alternativa existencial. Pois, de acordo com Marisa Lajolo (O romance
brasileiro, 2004, p14) “Vida e literatura enredam-se em bons e maus momentos, e
os romances que eu leio passam a fazer parte da minha vida, me expressam em
várias situações.”
Esta produção de conhecimento consiste
em uma reflexão sobre os desafios encontrados pelo professor de língua materna
e estrangeira em incentivar a leitura de textos literários no contexto escolar,
mediante o bombardeio tecnológico que o mundo contemporâneo oferece. Sua
elaboração foi feita a partir dos conhecimentos obtidos nas tele aulas do curso
de pós graduação, mediante leitura e análise dos livros “Compreensão e Produção
de Textos em Língua
Materna e Língua Estrangeira” e “Estudos Literários e
Culturais na Sala de Aula de Língua Portuguesa e Estrangeira” escritos por
Alessandra Coutinho Fernandes, Anna Beatriz Paula e Lilian Deise de Andrade
Guinski respectivamente. Também buscamos embasamento teórico nas obras de
Regina Zilberman Silva, Maria da Glória Bordini Antonio Cândido, Marisa Lajolo e
Vera Teixeira de Aguiar.
O texto apresenta ainda relatos de
experiências vivenciadas em nossa atuação como professoras de Língua Materna e Estrangeira.
Estas servem de exemplos de como, apesar dos atrativos atuais trazidos pelas
novas tecnologias, oportunizar ao educando atividades capazes de despertar o
prazer pela leitura de textos literários.
Paulo Freire dizia que a “leitura do
mundo” precede a leitura da palavra. Decodificamos imagens, fisionomias,
movimentos e atitudes em nosso cotidiano. A leitura refere-se ao processo de
que todos se utilizam para interpretar seus mundos, é a ferramenta capaz de
enriquecer não apenas o conhecimento do leitor, mas a sua vida.
A LEITURA DE TEXTOS LITERÁRIOS EM MEIO AO “BOMBARDEIO” DAS
MÍDIAS TECNOLÓGICAS
O ensino de literatura proporciona uma
série de conhecimentos sobre o ser humano e o mundo, por isso é indispensável
conscientizar o educando sobre a importância dessa disciplina em sua formação
integral.
Vivemos em uma sociedade tecnológica e
fragmentada, que disponibiliza de muitos atrativos que competem com os recursos
que a escola dispõe. É uma competição desleal em que o desejo de atrair o interesse
dos alunos, encontra na era da informática vários potenciais obstáculos. A
maioria dos estudantes só pegam um livro para ler por imposição de algum
professor ou, mais raramente, de pais que tenham passado por experiências
positivas através da leitura.
Por isso, o incentivo à leitura
tornou-se um grande desafio para os professores. Alguns acreditam que o
problema se encontra no fato de que os alunos não lêem, preferindo ocupar seu
tempo com atividades mais atrativas oferecidas pela mídia. Outros culpam o
professor por não conseguir despertar o gosto pela leitura. Talvez por não
conhecer estratégias ou uma metodologia adequada ao ensino da literatura. Além
disso, não podemos esquecer as bibliotecas mal equipadas, os altos preços dos
livros etc.
Entretanto, vivemos num mundo em que
constantemente temos que tomar decisões que exigem pensamento reflexivo,
raciocínio e conhecimento, que pode ser obtido através da experiência entre
erros e acertos, ou pela leitura. Esta última desenvolve habilidades como
observação, análise, síntese, comparação de uma situação imaginária com outra
real etc. A multiplicidade de situações apresentadas pela leitura propicia a
conquista de diversas experiências. Na literatura infantil é comprovada a
influência dos contos de fada especialmente na psique daquelas crianças que
passam o dia longe de seus pais que trabalham, e ficam expostas ao bombardeio
de informações oferecidas pela mídia. A fantasia representa um meio para que
ela organize sua personalidade ao mesmo tempo em que diverte o leitor.
Zilberman e Silva (1988) assinalam que o ensino da literatura tem o compromisso
de formar o leitor, através de atividades que proporcionam experiências com
textos literários.
A tarefa da escola em formar leitores
é imprescindível, pois a leitura de textos literários oportuniza a reflexão
sobre o ser humano, auxiliando-o a ter mais segurança diante de suas próprias
vivências. A literatura possibilita que a racionalidade da linguagem e a
fantasia se unam sem perder de vista os universos do autor e do escritor.
No entanto, ler não é um processo
simples, que se reduz à simples decodificação de sinais. Significa adentrar-se
ao que está escrito nas linhas e entrelinhas. Não podemos considerar o leitor
como um receptor passivo de um texto. Ele é quem produz o sentido, interagindo
com o texto e relacionando-o com o contexto.
O sociólogo e crítico literário
Antonio Cândido defende a existência da tríade autor-obra-público, na qual
estes três elementos são de equivalente importância no processo de leitura de
obra. O leitor é quem dá sentido à obra, “sem ele o autor não se realiza, pois
ele é de certo modo o espelho que reflete a sua imagem enquanto criador. Os
artistas incompreendidos, ou desconhecidos em seu tempo, passam realmente a
viver quando a posteridade define afinal o seu valor” (Cândido, apud Guinski,
p107). Assim, pode-se afirmar que o público é indispensável para o escritor,
que por outro lado, deve sempre considerar as necessidades deste ao produzir
uma obra. A obra é o elo de ligação entre o autor e o público, pois é ela que
despertará o interesse do leitor pelo seu criador, é através dela que ele
ficará conhecido. Já o autor é a pessoa responsável pelo início do processo.
As mídias contemporâneas como
internet, TV e cinema tem proporcionado o surgimento de novas formas de ler e
escrever, transformando enormemente a produção, transmissão dos textos e a
relação do leitor com os mesmos. É um novo estilo de leitura. O leitor se
transformou em um surfista de textos, que é capaz de fazer leituras curtas e
fragmentadas nos intervalos entre as diversas atividades de seu
cotidiano. O ambiente de leitura, que tradicionalmente era um local de
silêncio, em muitos casos se converteu em lugares movimentados e barulhentos
como os eventos de Roleplaying Game, por exemplo.
Já a leitura de obras clássicas, é
preferencialmente feita a partir de adaptações em edições reduzidas ou
recontadas e, sobretudo, por versões cinematográficas. Esta questão pode ser
vista como um empobrecimento das obras originais, ou como uma forma de
democratização das mesmas, que se libertaram do universo de culto como obra de
arte, proporcionando o maior acesso de leitores ao seu conteúdo.
Há ainda o hipertexto que consiste em
uma forma de informação existente apenas no ambiente digital, estruturado em
blocos de textos não lineares e não sequenciais, acessados através de links
eletrônicos. A divulgação de textos pela internet torna-o acessível a um número
maior de pessoas. Entretanto, segundo Guinski (2008, p77) “o leitor deve estar
ciente do risco de ler obras adulteradas (em sites livres), incompletas
ou acostumar-se a ler resumos e meros comentários, deixando de ler obras
completas.” Porém, não se pode deixar de lembrar que através da internet é
possível ter acesso a obras antigas e que não são mais publicadas.
Uma forma de leitura que atinge um
grande número de leitores é o best-seller. E é justamente por ter uma
demanda muito grande que assim é denominado. Este tipo de literatura é bastante
procurado porque possui uma linguagem mais acessível, que não exige um
vocabulário mais apurado nem um conhecimento prévio do leitor.
O professor é o mediador do processo
de formação de leitores que devem ser cada vez mais críticos. A multimodalidade
é uma alternativa para o trabalho nas séries finais do ensino médio. De acordo
com Fernandes , Paula (2008, p 65) a multimodalidade permite “algumas
atividades bastante diferenciadas, como, por exemplo, propor a criação de um
determinado cartaz publicitário a partir de uma pintura ou foto famosa, dessa
forma, explorando a intertextualidade multissemiótica; permite perceber como os
sistemas de signos podem ser articulados.” Pode-se ainda utilizar propagandas,
para desencadear um debate de como a mídia opera as linguagens visual e verbal,
visando produzir determinado efeito. Fernandes, Paula (2008, p 33) acrescenta
ainda que
É importante para os alunos que sejam
discutidas as relações entre imagem e texto, para que eles percebam de que
maneiras uma linguagem colabora com outra reforçando a comunicação pretendida.
Cartazes de filmes cinematográficos e peças publicitárias presentes em revistas
são ótimo instrumento para que análises coletivas sejam desenvolvidas em sala
de aula.
A abertura de uma novela, por exemplo,
apresenta um grande número de informações que nem sempre são percebidas pelo
público. Os recursos gráficos como tamanho, cor e formato de letras, imagens e
até mesmo a disposição das informações de jornais e revistas não são utilizados
gratuitamente. Isso também ocorre nas embalagens de produtos, nas sinopses de
DVDs, nas capas dos livros etc. Tudo isso pode ser utilizado como tema para
debates e dar origem a novas produções nas quais os alunos sejam instigados a
utilizar a imaginação e a criatividade.
A mídia utiliza recursos como rimas,
ritmo ou sonoridade, para alcançar seu objetivo que é o de induzir à aquisição
de determinado produto. O consumidor nem sempre percebe o que está nas
entrelinhas de um texto publicitário. A escola deve oportunizar ao educando
situações que o torne um indivíduo capaz de perceber certos aspectos que o
cercam quase diariamente, especialmente nos meios de comunicação. Deve-se
buscar a formação de um leitor que saiba se posicionar criticamente diante dos
apelos midiáticos, reconhecendo a série de interesses que estão por trás das
mensagens transmitidas.
Conclusão
A leitura é um processo que exige a
disponibilidade do leitor em se aprofundar no texto. Para isto, quando o educando
não se sentir seguro, o docente deve acompanhá-lo até que ele seja capaz de
percorrer sozinho todas as etapas que o processo de leitura e compreensão
exigem. “O leitor deve ser consciente do seu papel de co-autor da obra, bem
como do papel desempenhado pelo texto e pelo autor.” (Guinski, p108)
A escola deve ser um local único de
reflexão sobre a condição humana. Para isso ela necessita ultrapassar sua
dimensão tradicional e propor
outras para corresponder às expectativas
sociais.
Existe
uma variedade enorme de possibilidades de leitura que contribuirão para a
formação do leitor. Cabe a nós,
professores, no papel de orientadores do processo, proporcionar situações
agradáveis de vivência dessas possibilidades. Não podemos perder o precioso
tempo da infância para despertar na criança o gosto pela poesia, pelas fábulas,
pelos contos, sejam eles de fadas, duendes, ogros, bruxos do bem ou do mal,
personagens fantásticos que povoam o imaginário infantil. Maria da Glória
Bordini e Vera Teixeira de Aguiar (Literatura: a formação do leitor, 1993),
declaram estar convencidas de que a crise da leitura não se deve à falta de
motivação das crianças. Deve-se sim, segundo elas, ao desconhecimento do
professor, acerca da oferta dos textos literários, bem como ao despreparo dos
educadores, como leitores, e ao uso de técnicas autoritárias, como a abominável
ficha de leitura, que afastam as crianças dos livros.
Ocorre que, muitas vezes, recebemos o adolescente ou o
jovem, nos anos finais do fundamental ou no ensino médio, já desprovido do
gosto pelos livros impressos, pois pularam etapas do processo de construção da
leitura, porque não lhes foram proporcionados momentos de experimentar
situações lúdicas no que tange ao lado prazeroso do ato de ler, preferindo
aventurar-se pelos caminhos instigantes, coloridos, sonoros, gostosos dos
textos e eventos midiáticos.
Se não podemos lutar contra o processo midiático que cada
vez mais conquista nossos alunos, já “enjoados” dos textos dos livros
didáticos, do quadro-verde e do “pó de giz”, porque não nos utilizamos da mesma
para acrescentar à leitura mais cor, mais som, mais “vida”?
Chegamos à conclusão que o papel da escola é definitivo
na formação do leitor. Urge descobrirmos os meios, uma nova metodologia que funcione
para este fim e nos predispormos para tanto, o que nos parece um tanto difícil:
muitas vezes não somos adeptos da leitura de textos impressos, também não temos
acesso a obras significativas ou não temos coragem de “comprar essa briga”,
pois a mesma requer muito dinamismo e criatividade.
Todavia, é preciso engendrar estas novas possibilidades e
começarmos a fazer uso desta grande rede. Temos que nos libertar dos
preconceitos, dos comodismos, das antigas práticas e encararmos a tecnologia
como uma aliada, nem que, para isso, tenhamos que realizar cursos,
treinamentos, troca de ações concretas e nos unirmos com os docentes de outras
disciplinas, numa corrente de interdisciplinariedade, forjando situações reais
de uso da mídia, solicitando inclusive a ajuda dos próprios alunos, na maioria
das vezes, já dotados da capacidade de “criar” usando a linguagem da
tecnologia, tão familiar para ele.
Bibliografia
GUINSKI,
Lilian Deise de Andrade. Estudos Literários e Culturais na Sala de Aula de
Língua Portuguesa e Estrangeira. Curitiba: Ibpex, 2008
Zilberman,
Regina; SILVA, E.T. Leitura: perspectivas interdisciplinares. São Paulo: Ática,
1988
FERNANDES,
Alessandra; PAULA, Anna Beatriz Paula. Compreensão e produção de textos em
língua materna e língua estrangeira. Curitiba: Ibpex, 2008.
BORDINI,
Maria da Glória, AGUIAR, Vera Teixeira de. Literatura: A formação do leitor:
Alternativas Metodológicas. 2ª edição. Série Novas Perspectivas 27. Porto
Alegre: Mercado Aberto, 1993.
CÂNDIDO,
Antonio. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. São
Paulo: T.A. quiroz, 2000.
LAJOLO,
Marisa. O romance brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
_______. Do mundo da leitura para a
leitura do mundo. São Paulo: Ática,
1993.